Por Vitor Hugo Soares
Enquanto aguardo para o mês que vem ou setembro, no máximo, a chegada nas bancas da última edição impressa do Jornal do Brasil, como o próprio JB anuncia, vou convivendo com a melancolia que esta notícia instala no coração de quem passou mais de 17 anos de sua existência profissional no ventre então rico e generoso desta legenda mais que centenária do jornalismo no País, que agora solitariamente agoniza .
Em Salvador – base principal mesmo quando ganhava a vida catando notícias na sucursal baiana do jornal carioca de expressão nacional, cuja redação dirigi por largo tempo em bons e maus períodos -, espero ainda algum sinal milagroso. Algo capaz de impedir – ou adiar de novo- o desastre outras vezes anunciado do “diário da Condessa” , como tantas vezes ouvi o colunista político Castelinho chamar carinhosamente o JB, em suas passagens sempre referenciais pela Bahia. Principalmente para os mais jovens que viviam a profissão naqueles insanos dezembros. “Mas quando me lembro são anos dourados”, faço coro agora com os versos insuperáveis da canção de Chico Buarque e Tom Jobim.
Admito, no entanto, como alguns mais preocupados e menos sonhadores ex-companheiros da antiga sucursal no bairro soteropolitano de Pernambués alertam, que o mais recomendável nesta quadra talvez seja manter o velho ceticismo profissional. Aquele ensinado na teoria das faculdades e aprendido de fato na prática do dia a dia da redação. Confesso que neste caso não consigo, pois o sentimento fala mais forte e mais alto que a razão.
Mas enquanto o desfecho não chega, seja ele qual for, o melhor mesmo é aguardar sem tirar os olhos dos fatos da geléia geral brasileira, nestes dias virulentos e estranhos de campanha eleitoral sem debates e sem propostas. Sigo assim uma antiga recomendação do saudoso editor nacional do JB, Juarez Bahia – sete prêmi os Esso de Jornalismo em uma das mais ricas e dignas biografias nacionais de mestre de jornalismo impresso e de escritor - nascido em Feira de Santana , entroncamento de estrada inescapável de quem trafega do Nordeste para o Sul e Sudeste do País, e vice versa.
Na política, a cidade da Feira abrigou histórica barricada das chamadas “esquerdas baianas”, nos tempos heróicos do resistente deputado Chico Pinto, ícone nacional na política como o autor de "Dezembro na Feira" no jornalismo. Na última década a cidadela foi invadida e tomada pelos ex- soldados do carlismo, seguidores da Arena e PFL de Antonio Carlos Magalhães, atualmente hospedados no DEM, partido que combate o governo petista de Jaques Wagner no Estado, abrigo nacional de Indio da Costa, aliado e vice de José Serra, do PSDB, na chapa sucessória para o Palácio do Planalto.
Por Feira de Santana – talvez por mera coincidência, talvez por considerar o lugar um antigo talismã eleitoral desde antigas campanhas presidenciais -, andou ontem o presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, em seu roteiro sentimental de despedidas, precedido de polêmica, emocionada e reveladora entrevista no Jornal da Rede Record, que segue sem a devida repercussão das demais grandes redes de TV e, principalmente, da grande mídia impressa do Pais. Espaço correta e devidamente ocupado pelo diário argentino "El Clarin", em sua edição de quinta-feira.
Ou seria, voltando à visita de Lula, “o roteiro mal disfarçado de velho e tarimbado mitingueiro de palanque em campanha política, fazendo ouvidos moucos à legislação eleitoral em vigor”, como desconfiam em veementes protestos os adversário tucanos e do DEM?
O motivo da visita, assinalado na agenda do Palácio do Planalto, foi a participação do chefe da Nação na abertura do II Encontro Nacional de Agricultura Familiar do Brasil. “O evento que reúne, esta semana, na cidade tambor de percussão e entroncamento da Bahia, aproximadamente cinco mil agriculto res familiares de todas as regiões do País, além de autoridades das três esferas de governo e parlamentares, para fazer um balanço dos avanços nas políticas direcionadas à agricultura familiar e apontar as perspectivas e os desafios para o próximo período”, segundo comunicado da assessoria do governo petista de Wagner.
Na véspera, noite festiva de quinta-feira, em Salvador, o presidente Lula da Silva foi a primeira personalidade 'homenageada com o mais alto grau do título criado em honra aos que contribuíram para a consolidação da Independência do Brasil na Bahia: a Grã-Cruz da Ordem 2 de Julho - Libertadores da Bahia", o comunicado oficial. Na saída da solenidade cívica, Lula não resistiu ao apelo político.
Na conversa com jornalistas, comentou a saia justa que para muitos políticos, candidatos principalmente, representa o duplo palanque eleitoral como nas campanhas ao governo estadual dos ferrenhos adversários Jaques Wagner, do PT, e do ex-ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, que tanto constrang e a candidata presidencial do PT, Dilma Rousseff, em suas visitas à Bahia.
“Para mim isso não é problema. Já participei de campanhas de até três palanques, disse Lula antes de seguir viagem para Feira de Santana.
“Onni-soit qui mal y pense” (amaldiçoado aquele que pensar mal dessas coisas ), diriam os elegantes políticos franceses. Máxima com a qual, neste caso baiano, tucanos e democratas estão longe de concordar. Sinal mais que evidente de que é hora de segurar o Indio, pois vem mais flechadas por aí.
É só esperar para ver. E conferir
EM TEMPO: Que todos os santos e todos os orixas se juntem para salvar o Jornal Brasil, livrando tambérm o JB de todos os males e encostos que o infelicitam atualmente e o ameaçam de amargo fim. Amém e Axé!
Vitor Hugo Soares é jornalista. E-mail:vitor_soares1@terra.com.br
Um comentário:
Chaaaaaaaaaaaaaaatooooooooooo!!!!!
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