11 julho 2008

Três tristes tigres


Três tristes tigres (o título já dá a idéia da narrativa: refere-se a um trava-línguas famoso) é um romance com vários personagens que perambulam por La Rampa, o bairro boêmio de Havana, entrando e saindo de cabarés, mantendo longos diálogos e envolvendo-se na noite pré-castrista entre fantasias e desventuras de jovens aventureiros e intelectuais (Códac, o fotógrafo, Bustrófedon - o homem dos jogos verbais e mentais, Arsenio Cué, Silvestre e Eribó).
As influências de Cabrera Infante são Lewis Carroll, James Joyce, Sterne e Petrônio.
Romance fragmentário, com várias vozes, de um humor exuberante e uma constante brincadeira com as palavras (um dos momentos intelectualmente mais instigadores é quando Cabrera Infante parodia, com muita graça, os mitos literários cubanos escrevendo à maneira, entre outros, de Alejo Carpentier e Lezama Lima).
As narrativas em primeira pessoa mostram uma vivacidade que as traduções não conseguem recriar. Cabrera dizia que o espanhol falado no livro é um argot (gíria) de um determinado grupo de uma determinada área (La Rampa) de Cuba.
O livro é composto por pequenos livros-narrativas como mosaicos menores inseridos num outro maior. Grosso modo, temos: o livro da cantora em “Ella cantaba boleros”; os pastiches e os jogos verbais de Bustrófedon; a sessão de análise em que a voz de uma mulher somente aparece velando a voz do analista e, entre outros, a “Bachata”, quando dois personagens, Arsenio Cué e Silvestre, andam de carro pelo Malecón.
Há uma certa euforia da velocidade, os diálogos - recheados de paradoxos que lembram Lewis Caroll - são sobre mulher, a vida, o passado, a música, Cuba e muitos outros temas discutidos com erudição e humor. A oralidade é o forte do romance. É ela que subverte o beletrismo e que instaura um clima de paródia, de fluxo de consciência feito, ao contrário do humor irlandês de James Joyce, com a ginga e bossa dos cubanos - essa gente que também tem candomblé, uma grande população negra e a música mais contagiante do Caribe.
Os fragmentos da narrativa que compõem o romance dão unidade através da heterogeneidade, na falta de perspectiva de seus protagonistas, na intermitência das falas - cria-se uma substância, um corpus organizado a partir da desordem.
Na introdução do livro, o autor mesmo adverte: este livro está escrito em cubano. “Es decir, escrito en los diferentes dialectos del español que se hablan en Cuba… predomina como un acento el habla de los habaneros y en particular la jerga (gíria) nocturna, que, como en todas las grandes ciudades, tiende a ser un idioma secreto”.
Três tristes tigres é, ao mesmo tempo, regional e universal. Utiliza-se da gíria, da descontrução da linguagem falada, dos períodos longos a refletir o mais fielmente possível a confusão mental dos personagens, faz uso dos temas das conversas e preocupações dos protagonistas expressas através de diálogos e atitudes que mostram uma faceta universal e, concomitantemente, registram uma marca essencialmente cubana.
Vale a leitura!!!

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