07 julho 2008

Ode a Cuba Libre




A Cidade Perdida, filme de Andy García, exibido em poucos cinemas no Brasil, além de vigoroso, é uma ode à Havana dos anos dourados, mas nem por isso menos verdadeiro e contundente. Ele fez um filme admirável, tão importante para divulgar os horrores da revolução cubana de Fidel Castro e “Che” Guevara.
Pelo que se sabe, para realizar A Cidade Perdida, Andy Garcia, que nasceu em Cuba, levou 16 anos com o roteiro (feito em parceria com Cabrera Infante, outra vítima de Fidel) debaixo do braço, procurando financiamento numa Hollywood “politicamente correta”, entregue aos caprichos de cubanófilos decadentes, mas poderosos.
Com o filme pronto, García se defrontou com um outro tipo de ditadura, tão nefasta quanto a tirania de Castro, isto é: a tirania dos festivais cinematográficos.





É pena, pois A Cidade Perdida emociona e faz pensar. É evidente que não pretende “desconstruir” nem “minimalizar” coisa alguma. Antes, procura se articular no legado da estética aristotélica, aberta aos sentimentos e ao entendimento do grande público, como deve ser o cinema de massa. Os modelos perseguidos, pelo que se diz, foram Casablanca e Dr. Jivago, dois exemplares clássicos aos quais o ajuste de contas de García, feito em 35 dias e com custo em torno de 9,5 milhões de dólares, nada fica a dever e poderá ficar como o primeiro filme de ficção a abordar de forma convincente as ditaduras sangrentas de Fulgêncio Batista e Fidel Castro.

A trama do filme gira em torno do fulminante aniquilamento da família Fellove – o patriarca Federico, professor universitário que se nutre em Sêneca e acredita na democracia; a matriarca D. Cecilia; o tio Donoso, gourmet plantador de fumo, os filhos Luis, Ricardo e Fico (Andy Garcia, em belo desempenho), proprietário do cabaré “El Tropico” (réplica do Tropicana), o empresário da família, visto que os outros irmãos são ou estão em vias de se engajar no Diretório Revolucionário (núcleo subversivo da classe média urbana) e na guerrilha de Castro, em Sierra Maestra, ambos obstinados no combate à ditadura do ex-sargento telegrafista Fulgêncio Batista – curiosamente levado ao poder, em 1940 e 1953.

Falei acima no aniquilamento da família Fellove, mas o aniquilamento, em termos reais ou simbólicos, é da própria Cuba, dividida politicamente e depois destruída por uma ditadura que se faz mais violenta, corrupta e desumana do que a do sargento Batista, ao eliminar os mínimos vestígios de liberdade, seja individual ou coletiva. A especialíssima Havana, conhecida nos anos 40 como a “Paris do Caribe”, passa a ser a masmorra infecta do Comandante Castro, um tirano egocêntrico e sem limites.
A contundência do ajuste de contas não supera na obra o doce encanto da ode à Havana que Garcia constrói, especialmente quando recria o universo musical da cidade com seus clubes, cabarés, cantores e dançarinos fascinantes, plenos de vitalidade, onde prevaleciam as figuras de Ernesto Lecuona e Domase Perez Prado, autores, por exemplo, de composições como “Siboney”, “Para Vigo me voy” e “Patrícia” – definitivas e definidores de uma época e de um esplendor. Neste terreno, a sensibilidade de Garcia só acrescenta beleza, ainda que nostálgica, ao clima de uma cidade mítica destruída pelo castro-comunismo.




Alfredo "Chocolate" Armenteros, músico cubano, toca maravilhosamente no filme, numa participação especial

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