15 dezembro 2008

Precisamos reinventar o Natal


Você já parou para pensar como a sociedade moderna consumista distorce o verdadeiro sentido do Natal? Pois é...eu ando pensando muito nisso.
É só prestar atenção nas cenas de Natal que os comerciais de TV adoram mostrar: família reunida sob a árvore enfeitada ou a mesa farta (não que a minha não seja tudo isso), presentes cheios de embalagens para todos os lados, decoração natalina exagerada. Não me parece a mais ecológica das imagens...

Mas o fato é que a data invade cada canto das cidades, ostensivamente, das fachadas das casas aos postes tomados por luzes coloridas nas avenidas. Quem tem dinheiro para comprar, se estressa e reclama da falta de tempo para as compras, da fila nos estacionamentos dos shopping centers, da cunhada chata que vem para a ceia, da agenda lotada do cabeleireiro, dos preços do panetone. Quem não pode comprar, sofre e remói por dentro um sentimento de inferioridade e incompetência para desfrutar “o melhor da vida” – como se o bom da vida fosse, de fato e tão somente, medido pelo potencial de consumo de cada um.

Nem Obama nem Bush juntos têm um marqueteiro tão eficiente quanto o Papai Noel que - desculpem-me pela expressão - é um verdadeiro ditador! A publicidade que pesa sobre o Natal não prima pela delicadeza e nem de longe pede licença para entrar no elevador, no ônibus, na nossa casa. Ele simplesmente diz: “é natal, pessoal, vocês têm que comprar”!

Quem tem que barrar sua entrada somos nós - e isso, para quem tenta controlar sua força, dá um trabalhão danado. Eu, por exemplo, detesto, abomino e condeno os comerciais de tv às vésperas do Natal. Todos eles reduzem nossa experiência de vida ao consumo, que não precisa ter limites porque “o cartão de crédito XPTO facilita tudo para você”, ou porque na loja XYZ “você só começa a pagar depois do carnaval”. Resultado: quase não vejo tv ou, se assisto, tiro o som ou saio da sala nos intervalos comerciais.

No entanto, os mais desavisados – que são muitos – entram na neura de ter que comprar presentes para todo mundo, com o habeas corpus perfeito para tirar qualquer peso da consciência: é Natal! Ai, ai, ai. O que fazer, então?

Boa pergunta! Lutar contra cansa, dá trabalho, desgasta. Ignorar é difícil, porque soa descaso não dar presente para a mãe, o pai, os filhos – a menos que a família inteira embarque nessa. Será que dá para mudar um pouco a história do consumismo, então? Sim:


- Feira de troca: é uma boa alternativa para quem quer dar um presente diferente. Nesses espaços, os participantes levam produtos que já não lhes servem mais, mas que podem ser úteis a outras pessoas, como livros, roupas, bolsas, além de produtos caseiros e peças de artesanato. Se na sua cidade não há feiras desse tipo, você pode reunir os amigos e criar uma!

- Amigo secreto artesanal: no mesmo espírito da feira de troca, aqui a idéia é substituir a compra de um presente pela confecção de um, que pode ser uma torta, um pão, um caderno de papel reciclado, uma mudinha de planta etc. É só tirar os talentos da gaveta!

- Compras solidárias: se for comprar algum presente ou incrementar as refeições dos dias 24 e 25, pense na história dos produtos antes de fechar negócio: de onde veio, como foi produzido, quem produziu e em que condições, quanto tempo vai durar e como ele será descartado. Prefira produtos de cooperativas agrícolas ou de artesanato e exija sempre nota fiscal.

- Presente que faz bem: vai presentear uma criança? Pense antes nas mensagens que vêm embutidas no produto: prefira as bonecas de pano, feitas manualmente por artesãs e artesãos, àquelas erotizadas e anoréxicas que ficam estampadas nas prateleiras das lojas de brinquedos...

- Não à monocultura de idéias: esqueça o discurso do “não tem jeito, preciso comprar” e invente um Natal diferente. Compre com responsabilidade, use a criatividade e aproveite o encontro familiar ou entre amigos para curtir bons momentos e não para disputar o troféu de melhor presente.

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