01 agosto 2007

El jardín de senderos que se bifurcan




Cosmopolita e contraditória, dinâmica e tradicional, histórica e vanguardista! Buenos Aires é assim. E quem a conhece vai concordar comigo quando digo que esta metrópole tem personalidade própria, aberta à arquitetura, à cultura e à arte de todo o mundo. Tá certo que no me gusta mucho los argentinos! perdon chicos! Mas tratando-se desta cidade, jogo a toalha e me rendo. Bem portenha, Jorge Luiz Borges, homem de ficção literária e grande escritor, que revolucionou a prosa em castelhano, em um de seus contos intítulado "El jardín de senderos que se bifurcan", elucida bem a fusão do velho e do novo, sem perder o charme e todo romantismo que a cidade exala. Basta passear por Palermo Viejo, onde vive o espírito boêmio e criativo da cidade, e constatar uma mistura da arte do século passado com a arte moderna de vanguarda. Andando um pouco mais, San Telmo, com suas ruas de paralelepípedos, calçadas estreitas e casas coloniais, conserva muitas características da antiga Buenos Aires. É o bairro eleito por artistas e intelectuais, sede de importantes antiquários e galerias de arte. Lá, a feirinha aos domingos é imperdível! Bem ao estilo europeu, na Recoleta, além dos charmosos cafés e restaurantes, é fascinante suas galerias de arte, o Museu de Belas Artes, o Buenos Aires Design e a Casa onde nasceu Borges, que por influência da avó inglesa, foi alfabetizado em inglês e em espanhol, e hoje, uma fundação que abriga seus trabalhos. E como mulher, que adora também ir as compras rs, nada melhor do que andar na Florida de ponta a ponta, Corrientes, Cordoba afe! e ficar horas na Galerias Pacífico e, por fim, beber um café Mocca com um sanduíche de miga, e......depois devorar um cigarro (é, lá se pode fumar em qualquer lugar, sem preconceito)! E por falar em comida, o Puerto Madero, uma antiga zona de armazéns portuários, que há alguns anos foi remodelada, hoje, conta com restaurantes a beira do Río de la Plata, onde numa noite fria e estrelada, é um convite para um jantar a dois, saboreando um vinho e transbordando sensualidade! E cá para nós, uma cidade para se namorar! E milongueiro é o que não falta na por lá, Carlos Gardel que o diga! Basta ir até o Caminito, no La Boca, bairro pitoresco, tradicional dos primeiros imigrantes europeus, com suas casas multicoloridas, muita nostalgia em seus bares e muitos tangueiros.
Eu e um amigo, enquanto ouvíamos a terceira faixa do disco (vinil heim!) do Fundación Mitica de Buenos Aires, declamado pelo próprio Jorge Luis Borges, me disse o seguinte: "Penso em como Borges seria um excelente personagem de desenho animado: Um mister Magoo com interesses cabalísticos, que enfrentasse tigres com espelhos e punhais, desse bengaladas proféticas em jovenzinhos barulhentos e sorridentes, e passeasse aristocraticamente em tílbures sem cavalos (não, um Borges não usaria o termo carro - ou coche, ou paseo - para um automóvel) pelas ruas de uma Buenos Aires belle époque, parando e - demorando-se, quem sabe mecanicamente - diante de lojas envidraçadas vanguardistas em busca de relógios de areia, mapas e as primeiras edições de Robert Louis Stevenson".

Sobre Borges
Jorge Luis Borges nasceu em Buenos Aires no dia 24 de agosto de 1899. Em 1914 viajou com sua família para a Europa e se instalou em Genebra, onde cursou o ensino médio. Em 1919 mudou-se para a Espanha e aí entrou em contato com o movimento ultraísta. Em 1921 regressou a Buenos Aires e fundou com outros importantes escritores a revista Proa. Em 1923 publicou seu primeiro livro de poemas, Fervor de Buenos Aires. Desde essa época, adoece dos olhos, sofre sucessivas operações de cataratas e perde quase por completo a vista em 1955. Tempos depois se referiria à sua cegueira como "um lento crepúsculo que já dura mais de meio século". Desde seu primeiro livro até a publicação de suas Obras Completas (1974) transcorreram 50 anos de criação literária durante o qual Borges superou sua enfermidade escrevendo ou ditando livros de poemas, contos e ensaios, admirados hoje no mundo inteiro. Recebeu importantes distinções de diversas universidades e governos estrangeiros e numerosos prêmios, entre eles o Cervantes, em 1980. Sua obra foi traduzida em mais de 25 idiomas e levada ao cinema e à televisão. Prólogos, antologias, traduções, cursos e conferências testemunham a dedicação incansável desse escritor, que revolucionou a prosa em castelhano, como têm sido reconhecido por seus contemporâneos. Borges morreu em Genebra no dia 14 de junho de 1986.