06 agosto 2010

o realismo mágico de García Márquez

"É necessário abrir os olhos e perceber que as coisas boas estão dentro de nós, onde os sentimentos não precisam de motivos nem os desejos de razão. O importante é aproveitar o momento e aprender sua duração, pois a vida está nos olhos de quem saber ver".



O fato de um fantasma demasiado inconveniente habitar a casa foi apenas um dos motivos para o casal Buendía se mudar para um lugar longe e ermo. Tão ermo que, como primeiros habitantes, acabaram fundando uma cidade onde se tornaram a mais numerosa (e confusa) família. É assim que começa Cem Anos de Solidão, que conta a história de sete gerações com o estranho costume de batizar seus filhos com os mesmos nomes - cheguei a contar 22 Aurelianos. O mais peculiar é que, junto com o nome, herda-se também a personalidade do homenageado, gerando uma sensação de repetição e de que os personagens iniciais ainda são protagonistas, colocando, assim, o tempo como protagonista. Todos os habitantes dessa cidade fictícia vivem sob constantes e estranhos acontecimentos: chuva de flores amarelas, personagens que ascendem aos céus, frustradas revoluções comandadas por velhos e loucos coronéis de guerra, além de prefeitos déspotas que impõem leis estapafúrdias como a que obriga a pintar todas as casas da cidade de azul. Esses são só pequenos exemplos do que acontece nessa complexa trama. Trata-se de grandes e inteligentes metáforas que utilizam a fantasia como crítica à sociedade arcaica, imersa numa espécie de história cíclica e involutiva, onde tudo se repete independente da vontade dos personagens. Nada muito diferente do mundo real.
Há dois anos tive a oportunidade de assistir uma palestra de Garcia Márquez, no Colégio Miguel de Cervantes, onde meu filho estuda, durante a Feira do livro. O conheci pessoalmente e ele encanta! Com essa pérola da arte latino-americana, García Márquez – também conhecido como Gabo – garantiu seu prêmio Nobel (1982) e cravou Cem Anos de Solidão no rol de “leituras obrigatórias” dos apreciadores de boa literatura.

Colombiano de Aracataca, García Márquez é considerado um dos criadores do realismo fantástico (ou realismo mágico), gênero da literatura latino-americana do século XX. Ele consegue gerar obras sedutoras e ao mesmo tempo, simples e profundas.
Com personagens encantadores imersos em histórias excitantes, arrisco-me a dizer que é autor de livros que ficarão presentes na memória coletiva por séculos.
Para se ter idéia, Cem Anos de Solidão já vendeu mais de 30 milhões de cópias e foi traduzido para 35 idiomas.
São números impressionantes para quem, no início, não almejava nada além de uma carreira jornalística.

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